Otaku

Otaku (おたく, オタク ou ヲタク) é um termo usado no Japão para designar um fanático por um determinado assunto, qualquer que seja. No imaginário japonês, a maioria dos otakus são indivíduos com tendência a se isolar socialmente, que se atiram de forma obsessiva a um hobby qualquer, chegando em seu ápice a apresentar sintomas de fobia social e de comportamento esquivo.

No ocidente, a palavra é utilizada como uma gíria para rotular fãs de animes e mangás em geral (Otome no feminino), em uma clara mudança de sentido em relação ao idioma de origem do termo. Muitos membros da comunidade acham o termo ofensivo por não concordarem com a distorção de sentido do mesmo e se recusam a ser chamados assim. O termo é normalmente utilizado apenas dentro da comunidade de fãs de anime e mangás e de falantes do idioma japonês, sendo portanto desconhecido para o grande público.


No Japão

A palavra otaku em japonês é, originalmente, um tratamento respeitoso na segunda pessoa (お宅, literalmente "o seu clã" ou "a sua família").
Nos anos 80, passou a se usar o termo para se referir a fanáticos ou maníacos. O humorista e cronista Akio Nakamori (中森明夫) observou que a palavra era muito utilizada entre fãs de anime e a popularizou por volta de 1989, quando a utilizou em um de seus livros. Este livro, "A era de M" (Mの時代, M no jidai) descrevia um assassino em série que se descobriu ser obcecado por animes e mangás pornográficos, e que recriava as histórias estuprando jovens garotas. A história foi inspirada em um assassino real, Tsutomu Miyazaki (宮崎勤). Na época, criou-se um grande tabu em volta do termo e ele passou a ser usado de forma pejorativa para designar qualquer indivíduo que se torna obcecado demais em relação a um determinado assunto.

Com o tempo, surgiram diferentes "tribos" de otaku, que se identificavam de acordo com seus interesses em comum. Algumas delas são:


anime otaku (Animação Japonesa)
manga otaku (Histórias em quadrinhos)
pasokon otaku (Computadores)
gēmu otaku (Videogames)
tetsudō otaku (Miniaturas, como trens de brinquedo)
gunji otaku (Armas e coisas militares)

Pode-se associar os otakus aos hikikomoris quando a obsessão por um determinado tema atinge o seu ápice, culminando no isolamento do indivíduo em relação àquilo que não tem relações com o tema em questão e gerando os problemas psicológicos que caracterizam um hikikomori.

No ocidente, uma palavra com um sentido próximo seria "maníaco" ou "fanático". As palavras maniakku ou mania (do inglês "maniac") também são usadas do mesmo modo para pessoas que tem muito interesse, mas de uma forma mais amena e saudável: anime maniakku, gēmu mania, etc. Este uso seria equivalente à palavra "fã" no ocidente.

No Ocidente

Nos Estados Unidos, o termo chegou em 1992 com o animeOtaku no Video” (Uma mistura de anime e documentário que mostrava a vida dos vários tipos de fanáticos em animação na época) e foi difundido pela revista informativa Animerica como um termo para identificar indivíduos fanáticos como aqueles retratados na animação supracitada. Assim como ocorreu com os Trekkers, os otakus foram considerados uma subdivisão da subcultura nerd e o termo passou a ser usado de forma pejorativa, designando aqueles que são totalmente fanáticos por um elemento dessa subcultura - no caso, animação e quadrinhos japoneses. O termo foi se popularizando conforme os animes se popularizaram, e graças à Internet, o termo se espalhou pelo mundo, e pouco a pouco seu sentido foi modificado conforme se espalhava.

Mesmo que em muitos países o termo otaku seja usado como sinônimo para fã de anime e mangá, em muitos lugares ainda se utiliza o seu significado original, como por exemplo, na Austrália. É necessário certa cautela quanto ao uso do termo, portanto: a multiplicidade de sentidos que ela possui pode gerar conflitos desnecessários.

Visto que o termo pode ter teoricamente vários sentidos, o mais correto tanto gramaticalmente quanto linguisticamente seria manter o sentido original, no caso, japonês, do termo. A alteração de sentido por uso corrente só seria admissível quando o grande público tomasse conhecimento da existência e uso do termo e o adotasse em grande escala, um evento que ainda não ocorreu na esmagadora maioria dos idiomas no qual o termo foi introduzido nos últimos anos.

No Brasil

Este termo foi primeiramente introduzido no Brasil provavelmente pelos membros da colônia japonesa existente no país, mas ficou restrito às colônias e ao seu sentido original (o tratamento respeitoso na segunda pessoa, literalmente "sua casa" ou "sua família"). Porém, o sentido mais novo foi introduzido na época da "explosão" de dekasseguis, ocorrida no final da década de 80, quando o termo já havia adquirido seu sentido pejorativo e o fluxo de dekasseguis do Brasil para o Japão se intensificou.

Porém, a popularização do termo, e em certa medida até mesmo do anime e do mangá no país se deu graças a primeira revista especializada de anime e mangá no Brasil - a "Animax". Em tal revista utilizou-se provavelmente pela primeira vez a palavra otaku no mercado editorial brasileiro para agrupar pessoas com uma preferência por animação e quadrinhos japoneses. Como pôde ser percebido mais tarde, o significado original do termo e a visão pouco favorável que a sociedade japonesa tinha dos otakus não foi citada: o termo fora citado na Animax como sendo somente um rótulo utilizado por fãs de anime e mangá no Japão, e este foi o estopim da grande polêmica.

A omissão de explicações precisas sobre o termo e a posterior popularização de seu sentido teve repercussões logo de início: fãs de anime mais velhos e membros da comunidade japonesa que conheciam o sentido original do termo otaku antes da popularização do mesmo foram os primeiros a protestar contra a popularização da distorção do significado da palavra, sendo prontamente rotulados de "anti-otakus", por supostamente "transformar o termo em algo pejorativo". As discussões sobre o termo dentro da comunidade de fãs de anime se iniciaram, sendo esta a primeira possível polarização aceitável como tal dentro da comunidade: muitos membros se denominavam como "fãs de anime" em tentativa de escapar do rótulo de otaku, por saberem do significado pejorativo que a palavra carrega e admitirem tal significado como o correto; enquanto outra parte se denomina prontamente como otaku e prega que não há sentido pejorativo na palavra.

As discussões continuam até o momento presente, em locais que vão desde fóruns especializados em anime e mangá a comunidades no Orkut, e até agora não se chegou a uma decisão unânime sobre qual seria o sentido mais aceito pela comunidade: o original, de fanático por algo; ou o novo, que descreve de forma genérica os fãs de quadrinhos e animações japonesas. Porém, deve-se observar que lingüisticamente deveria se utilizar a palavra somente em seu sentido original, como foi citado anteriormente no artigo.

Otaku no Video

Otaku no Video (おたくのビデオ, Otaku no Bideo?) é um anime de comédia que alterna animação tradicional com segmentos de um mockumentary, e mostra tanto a vida e cultura de alguns otakus, quanto a história do grupo que criou o desenho animado em questão - a Gainax. Esta obra destaca-se das outras pela sua mistura de animação tradicional (com a roteirização característica de outros desenhos animados) com o uso de filmes em live-action que imitam um documentário comum, em uma mistura de técnicas um tanto diferentes entre si.

História

O personagem principal, Ken Kubo, é um japonês comum que vive pacificamente com a sua namorada e participando do clube de tênis de sua faculdade. Um dia, Ken encontra um de seus antigos amigos do colégio: Tanaka. Após ser introduzido ao círculo de amigos de Tanaka (sendo que todos os membros desse círculo são otakus) e aprofundar-se na cultura otaku, Ken acaba estabelecendo uma meta: tornar-se o Otaking, o rei de todos os otakus. Após isso, ele inicia sua "jornada" para atingir a sua meta.

O roteiro do anime centra-se nas peripécias de Ken para atingir o seu sonho e em análises sobre os diversos aspectos da subcultura otaku, enfatizando de forma exagerada certas caracteristicas que marcam os otakus como uma tribo urbana: a união existente entre os membros do grupo, a tendencia de "sonhar acordado", a criatividade pouco comum e o sonho de aceitação pelo resto da sociedade. Alem disso, ha criticas espirituosas a praticas comuns entre os otakus, como a imitacao de personagens de desenhos animados.

O Retrato de um Otaku

Algumas das partes mais espirituosas e controversas de Otaku no Video centram-se na inclusão de alguns segmentos de um documentário tradicional denominado "O retrato de um otaku". Nesses segmentos, os produtores do documentário entrevistam um otaku anônimo (devidamente ocultado por um mosaico em seu rosto e com a voz eletronicamente distorcida), que normalmente tem vergonha de seu fanatismo. Servindo como um contraponto para os segmentos em animação tradicional, os trechos em documentário centram-se nas características negativas que os otakus possuem, tecendo criticas contundentes e, as vezes, crueis a tribo urbana.

Com entrevistas que abordam desde um programador de computadores envergonhado de seus dias de cosplayer, passando por um otaku colecionador de garage kits e até mesmo um otaku que rouba celulas de animação e um otaku viciado em pornografia que se masturba durante a entrevista, esses trechos em mockumentary cobrem alguns dos diversos segmentos componentes da subcultura otaku e expõem aspectos extremamente negativos que mostram qual seria o ponto que o fanatismo otaku pode alcançar, e quais são as consequências que esse fanatismo traz.

Acredita-se que alguns dos entrevistados dos trechos de "O retrato de um otaku" eram funcionários da GAINAX na época que o anime era produzido.

Otaku no Video Trailer



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